DIAS...
Despenham-se na acidez das manhãs
Íngremes e imprevisíveis
Como as águas de Abril,
Condensando-se,
Depois,
Em amarelos muito claros
Vejo-os na semi-lucidez do acordar,
Antes da lenta queda
Do elevador singular
E intermitente
Voltam,
Depois,
Suspensos no mel
Dos olhos dos gatos omnipresentes
E dispersam-se por todos os lugares nenhuns
Com urgências de pólenes ao vento
Caem, por vezes,
Como inexplicadas pedras
No interior das confortáveis ausências
Que se sublimam em alegres,
Subversivas criações
Prolongam-se na comunicação
Em gargalhadas
Ou muito raras lágrimas
[conforme o cerne das alheias horas]
Na mesa concêntrica onde se cozinham percursos
Enquanto se bebem demorados cafés
Continuam,
Sempre,
Até soçobrarem,
A Oeste de mim,
No azul líquido
Que se veste de luminosidades artificiais
E morrem,
Inevitavelmente,
No momento pendular de todas as renúncias
Renascerão mais tarde,
Um a um,
No imprevisível sopro da permanência consentida.
Maria João Brito de Sousa
NA FOTOGRAFIA - A minha mãe, eu, com dez anos, e a minha irmã, Maria Clara.