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A PASSAGEM DE NÍVEL

Quarta-feira, 16.12.09

A menina de vestido azul

Avança dois passos à minha frente.

O horizonte termina na linha do comboio

Que descortino subitamente.

 

A luz vermelha acende no preciso momento

Em que a menina de azul

Pisa o primeiro carril.

 

Grito, aceno, alerto,

Mas ela não me ouve.

 

O comboio passa e a menina permanece

Apesar dele, dos acenos e dos gritos.

Apesar da luz vermelha…

 

Sou eu quem não está lá,

Naquela inexistente passagem de nível

Onde acaba a linha do horizonte.

 

 

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 13:58

NESSA CASA

Terça-feira, 15.12.09

 

Nessa casa

Os dias eram maiores...

As coisas eram, invariavelmente, vivas

E os vivos eram, pontualmente coisas.

Os medos e as revistas da novela

Arrumavam-se, sempre,

No quarto da criada

E as patologias

Dentro dos livros.

 

Havia sempre livros

Nunca demasiados, contudo,

E as paredes

Eram cúmplices

Dos meus infantis murais.

A enorme janela da sala

A poente

Convidava

A vespertinos arroubos

Da criação

Que seria, sempre,

A Senhora da casa.

 

Depois havia mais casas

Parecidas, mas muito diferentes…

A seguir era o Tejo

Aonde encontra o mar.

O Sol

Punha-se, sempre,

A nascente dessa casa,

Onde nasciam os abrunheiros.

 

As memórias

Tomavam chá connosco

E jogavam às cartas

Nessa casa.

Para além dela

O mundo era diferente...

No fundo

O mundo era apenas

Uma consequência dessa casa

Nessa casa.

 

Nessa casa escrevi,

Pintei e desenhei

Como hoje desenho,

Pinto e escrevo

Sempre que reinvento essa casa

Nesta casa aonde sou

Consequência de mim

NESSA CASA.

 

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 12:05

O ADIAMENTO DA SAUDADE

Segunda-feira, 07.12.09

Olho sem ver,

Vago olhar ligeiramente alienado,

Os ponteiros do meu relógio

Três minutos e meio adiantado,

Tica-taca, tica-taca,

Implacavelmente decidido

A não parar.

 

Olho sem ver

Mas vislumbro no vidro

Uma lágrima teimosa

Que deixei escapar…

 

Vislumbro

Uma saudade adiantada?

Atraso os ponteiros

Decididamente, devagar…

Retardo a hora

Mas não retardo o tempo

Porque era o tempo inteiro

De uma vida

Que afinal quereria retardar…

 

Sorrio àquela lágrima traída

E fico vagamente distraída

A atrasar, a atrasar, a atrasar…

Atrasando eu vou acreditando

Que o tempo, um destes dias

                                       Vai parar…

 

 

Na madrugada do conhecimento -1995

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 14:15








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