AQUILO QUE ESTÁ POR SENTIR
Rasgam-se poemas como se rasgam gritos.
Gritos de dor,
Gritos de fome de mundo,
Gritos suados, desgrenhados
Como os homens que acabaram de fazer amor.
Há quem os trace suavemente,
Com a brandura de brisas,
Com a leveza de carícias apenas esboçadas
E há quem os rasgue assim,
Com a crua rudeza de pedras atiradas.
No entanto
Os gritos rasgados
Só se distinguem dos gritos traçados
No momento em que param
Para dizer adeus
Àquilo que está por sentir.