NÃO VÁ SER TARDE...
NÃO VÁ SER TARDE...
*
Queixo-me destas mãos
que se me colam
às folhas de papel
dos dias neutros
*
Quantos dias,
porém,
me serão neutros
se as folhas de papel
se me colarem às mãos?
*
Subo ao telhado
da nova contradição
vestindo as penas descoradas
de um segredo
e rio-me dos fios de prata que correm
nas caleiras de um medo que não conheço
*
Depois torno a queixar-me
das mãos neutras
coladas ao papel dos dias,
dou um salto
em forma de metáfora
e
pouso suavemente
na superfície desta enchente de mim
*
Relembro as fábulas
que os deuses me contavam
no tempo em que o homem dominava a terra
e as cidades cresciam como cogumelos
*
Encosto-me então
à improvável solidão dos anjos
não vá,
de repente,
ser tarde demais para ressuscitar.
*
Mª João Brito de Sousa
26.04.2010
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