CANTIGA DE AMIGO DO SÉC. XXI
Amigo,
eu não sei que espantos,
que mágoas, que encantos
moldaram quem sou…
que arestas
de tão fundas rugas
traçaram as fugas
do que me restou
só sei
que tenho a certeza
de ser vela acesa
que o vento da vida,
soprando, soprando,
soprando…
fez tremeluzir
e tento sorrir,
porque quero dormir,
Apagar-me sonhando
Amigo,
a minha cantiga
de Amigo
é antiga,
tem anos sem fim
de dores e deleites,
e se
tão mal te conheço,
não espero nem peço
Que entendas, que aceites
mas canto,
aprendo
e entendo
que, apesar de tudo,
se nela me iludo,
se a teço em veludo
é por querê-la tanto…
Amigo,
eu não sei que espantos,
que mágoas, que encantos,
cantando te dou…
Maria João Brito de Sousa – 29.05.2010
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A INVENÇÃO DOS ÓCIOS
Os ócios,
Se os tivesse,
Pintá-los-ia do amarelo da manteiga
E derretê-los-ia,
Lentamente,
Entre a língua da caneta
E o palato do papel
Depois,
Se os tivesse, repito,
Trabalhá-los-ia à exaustão das horas
Não sei como,
Então,
Lhes chamaria,
Mas sei que o amarelo se decomporia
Numa remota hipótese de verde
Que não o do trevo
E muito menos o da esperança.
Maria João Brito de Sousa - 18.05.2010