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ABUTRES E BEIJA-FLORES

Segunda-feira, 30.08.10

 

Via-os por ali

Hilariantes,

Patéticos fantasmas de abutres

Babando-se de incontida curiosidade


Via-os

Quando se dava ao trabalho de olhar,

Se se dava ao trabalho de olhar


Inacreditáveis somatórios

De infortúnio e pobreza

Muito bem vestidos,

Muito míopes,

Muito desequilibrados,

Muito bêbados

Muito opinativos

E muito pouco inteligentes


Umas vezes

Irritavam-no,

Noutras

Enchiam-no de pena


Alguns,

Mais puros

Do que o bando comum

Pousavam devagarinho

E ficavam

Na imobilidade nervosa

Da sua timidez.


Pequenos beija-flores

Que não chegavam

A beijar coisa nenhuma,

Raros,

Silenciosos,

Bem-intencionados

E belos


Na esmagadora maioria

Dos dias

Nem sequer os via

Muito embora por lá continuassem

Simulando

Uma indiferença

Que só a ele

Legitimamente pertencia.

 


Maria João Brito de Sousa – 29.08.2010 – 01.54hs

 

 

IMAGEM - Stuart Carvalhais

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 12:41

AONDE A RAZÃO TE NÃO RESOLVE

Sexta-feira, 27.08.10

Sinto-te

Aonde a razão te não resolve

E o silêncio te desenrola

As infinitas páginas

De um tempo universal

 


Vejo-te

Como se não fosses

Ou fosses

Mas, não sabendo,

Te limitasses a estar

 


Oiço-te

Como se a tua essência fosse o som

E som

Fosse tudo o que tu és

 


Se te não sentisse,

Se te não visse,

Se em vez de te ouvir

O silêncio

Te pintasse de tons invisíveis

E a razão te explicasse


Se não estivesses mesmo…

 


De onde me viriam estas minhas palavras?


 

 


Maria João Brito de Sousa – 27.08.2010 – 00.14h

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 15:26








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