CHÃO DE MIM
Toco este chão
Com olhos de quem beija
E sei que não embarcarei
Mais vez nenhuma
Chão de mim
Em mutação constante
Que outra força
De mim te afastaria?
Constantemente o toco
Com mãos ocas de um nada
Que despejo
E depois recolho
Cheias de um tanto
Que só eu desvendo
Por isso sei
Que não embarcarei
Enquanto as mãos
Puderem sentir
E pressentir
O chão que me deu vida
Maria João Brito de Sousa
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A CONQUISTA DA FLOR PELA SEMENTE
Lá longe
Ecoa, indómito,
O meu grito,
Fonética estelar
Que eu dignifico
Num jogo universal que não domino
Eu desafio,
Mais do que o razoável
E seguro
Nas letras a que já perdi a conta
Das mil canções que crio e nem procuro
Tudo isto eu devo
E nada mais me move
Ou me norteia
Senão a mesma força que promove
A devoção lunar de uma alcateia
E, sobretudo,
Sou,
Como os demais,
Palco e passagem
Dos mil ilusionismos geniais
De uma vontade só, que é divergente,
Qual átomo lançado na voragem
Da conquista da flor pela semente!
Maria João Brito de Sousa
Ao lobo que mora em cada um de nós
Maria João Brito de Sousa – 14.11.2010 – 18.19h
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PORTO POSSÍVEL
Sou porto incerto,
Apelo que subverte e que redime
O que em vós dorme agora e que é sublime,
Tudo o que esteja longe
De estar perto
Sou a vontade,
Sou aquilo que resta aos vossos sonhos
Quando os dias parecem tão medonhos
Que só podeis sonhar
Com liberdade
Recuso tudo
A não ser a certeza da recusa,
Subverto mesmo a cor da vossa musa,
Transformo até o som do vosso canto
Num grito mudo
Sou como a fome
Que em crescendo vos torna insatisfeitos,
A voz que vos sussurra os mil direitos
Que mais tarde imporeis
A quem vos dome
Eu, intangível,
Liberto das vogais, das consoantes,
Primitivo, indomável como dantes,
Sou sede que se nega e depois grita:
-Eu sou possível!
Maria João Brito de Sousa – 14.11.2010 – 20.13h