JUÍZOS
Quando as mil gotas de água
da clepsidra
transmutadas em Tempo
nos julgarem
no tribunal
de um escólio já expurgado
virão,
dos muitos olhos que nos lerem,
juízos
mais ou menos razoáveis
que esse distanciamento proporciona
Nesse entretanto,
alguns nada verão
e os outros...
mil imagens desfocadas
por espelhos reflectindo o que contêm
Maria João Brito de Sousa – 15.12.2010 – 00.49h
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(SOBRE)VIVENTES
Nunca as conheceram,
Às flores de água estagnada
Nas pedrinhas
De um passeio imprevisto
Ainda à vossa espera?
No tempo em que os poetas
Eram feitos de papel
E os anjos se vestiam de farrapos
Mais ou menos coloridos,
Havia poças de água
Na fúria de uma sobrevivência
Tão menos visível quanto fascinante
Cresci a olhá-las
Para além da sua visibilidade,
Aprendi a sondá-las
E a reconhecer-lhes uma vontade
Que sempre ultrapassará
A minha,
A vossa,
A do próprio amor…
Nesse tempo
Do papel,
Dos farrapos,
Dos poemas curtinhos
E das tranças com laços,
Fundiam-se perfeitamente
Elas,
As flores de águas paradas
E eles,
Os meus olhos libertos como dantes
Maria João Brito de Sousa – 07.12.2010 -19.17h
Imagem retirada da internet
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SEJA EM QUE UNIVERSO FOR!
Aqui estou,
completamente desdobrada
entre o meu eu do primeiro instante
e o meu eu do último segundo,
no momento exacto
em que acabo de riscar
o que foi escrito
e começo a desenhar
a primeira letra do que está por escrever
Isso sou,
não mais e nunca menos,
exceptuando o pequeno intervalo
entre ser e não ser
em que fui tão além
sem que pudesse escrevê-lo
porque escrever não fez,
nem poderia ter feito, o menor sentido
Irei,
enquanto se me não cumpre esta distância
entre antes e depois
e nada mais peço
senão ser
gato-com-ou-sem-botas,
bicho-alado-sem-asas
ou fruto perfeitamente cristalizado
no mesmíssimo ponto
em que qualquer árvore É
antes de lhe apodrecer a raiz
e depois de a Vontade a ter tocado,
seja em que universo for!
Maria João Brito de Sousa – 01.12.2010 – 00.19h