CADA ÁTOMO DE MIM
CADA ÁTOMO DE MIM
*
Cada tábua que piso
Nesta toca,
Cada silêncio
Que reconquistei,
Cada parede
À beira do abismo
Destas mãos na loucura de voar,
Cada lágrima
Em mim jamais chorada
Que irrompe num verso interrompido,
Cada átomo de mim
Neste pulsar cá dentro,
É para mim.
O resto é teu!
*
Maria João Brito de Sousa– 29.01.2011 – 22.33h
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SEM TÍTULO
Bebeu da fonte de outro medo
Esse menino
Que uma outra mãe
Pariu e embalou
Na teia azul
(metálico segredo)
*
Vive por um fio,
Por um fio mataria;
*
Toque-se o fio,
Vislumbre-se o segredo
E a teia azul transmuta-se em casulo
*
Assustado, confuso,
Cronos passa por ele sem o notar,
Tagarelam os anjos noutro altar
E nem o inimigo o apontaria a dedo
*
Bebeu, colado à teia,
Bebeu do fio
Da fonte de outro medo
*
Maria joão Brito de Sousa - 1999
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GUARDAR AS LUAS
GUARDAR AS LUAS
*
Todos os dias
as mãos se lhe enchiam
de luas e pães
comprados no café da esquina.
*
Eles,
os pães,
porque as luas lhe nasciam
das asas dos pássaros
quando se demoravam
sobre as reflexões
e dos olhos
dos que se cansavam
de a entender
*
Eram luas e pães
multiplicados
por somas de ausências,
mas eram
e ninguém negaria
a concretude da sua inexistência.
*
Maria João Brito de Sousa - 07.01.2011 - 16.25h
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HOJE NÃO É PARA TI
HOJE NÃO É PARA TI
*
Não,
Não é para ti
Que teço estas vogais e consoantes
Nos intervalos da respiração das sílabas,
Nem para ti são
Os silêncios compassados
E os ditongos musicais.
*
Nunca para ti
Que perscrutas a mole humana
Com a vontade gélida
Das ferramentas de laboratório,
Com os ouvidos infalíveis do diapasão,
Com os olhos vítreos do microscópio
*
Hoje escrevo para os que virão,
Para os que todos adivinhamos
Mas não podemos dissecar
Porque se conjugam num tempo
Que está por nascer.
*
Hoje não trago palavras;
Só a certeza
De que a preocupação
Com os adjectivos,
Se excessiva,
Conduz à pobreza do que é kitsch
*
Maria João Brito de Sousa -04.01.2011 -23.11h