BREVES PEIXES DE ESCAMA CADUCA
Nós, os de olhos reclusos
Num infinito demarcado por metas,
Breves peixes de escama caduca
Na sopa vítrea de um sonho qualquer,
Mordendo ilusões de um pomo menor,
Pontuamos, tão só, pela diferença
De impulsionar as barbatanas
Sabendo
Que poderíamos escapar
Mas que jamais o quereremos fazer sozinhos
*
Nos dias roubados às noites de insónia,
As coisas sésseis,
Que não mexem,
Nem deixam de mexer
- coisas sonhadas, de motilidade hipotética –
Impulsionam-nos mais e mais,
A nós,
Breves peixes de escama caduca
De olhos reclusos num infinito
Pré-determinado por um sonho
Que sabemos construido
Sobre cada uma
Das nossas escamas
Maria João Brito de Sousa – 31.03.2011 – 09.53h
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SEPARAÇÃO - em quatro andamentos
1 - Davam-se as mãos
E largavam-nas
Na impaciência de um gesto recorrente
2 - Voltavam a unir-se
Pontualmente
Na urgência de uma chama qualquer
E logo se desuniam
Como se ela os queimasse
3 - Cada vez mais recorrentemente
Se impacientavam
E as mãos desafiavam as leis da Matemática
Multiplicando-se em desuniões
Sem que chama alguma as tivesse unido
4 - Deixaram de unir as mãos
Quando perceberam
Que a chama apagada
Queimava mais ainda
E nenhuma impaciência sugeriu
Que pudesse acender-se de novo
*
Maria João – 05.03.2011 – 16.52h
Imagem retirada da internet
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ESCOVO
ESCOVO
*
Que hei-de fazer de mim?
Venho de um qualquer mundo
que não consta
No Mapa Astral da consagrada inspiração
e cobre-me um pó de sonhos
que tento
mas não consigo escovar eficazmente.
*
Talvez defeito da escova
que engendrei,
à falta de melhor,
a partir de umas sobras de ansiedade
que encontrei por aí
flutuando
quais limos de um mar desconhecido,
e amarrei
a um cabo de incertezas
que haviam perdido o prazo de validade.
*
Mas que me importa
a eficácia do artefacto
se nem sequer vislumbro
a origem da poalha que me cobre?
*
E escovo, escovo, escovo, escovo…
*
Maria João – 05.03.2011 – 16.20h
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V.V.G. - Lust of Life
"LUST OF LIFE"
(Vincent)
*
Bebeu-o um sonho qualquer
E, pouco a pouco,
Começou a entender
A linguagem de todos os silêncios
E o discurso temível do Mistral
*
Peça a peça,
Cada vez menos uno,
Indistinguia-se da linha imaginada
De cada horizonte
Em que houvesse,
Pelo menos,
Três árvores de folha perene,
Um céu manso de porcelana azul,
Um girassol
E um homem capaz
De olhar para dentro de si mesmo
*
Era,
À força de não ser coisa nenhuma,
Aquilo que sentia através da cor.
*
Maria João Brito de Sousa – 01.03.2011 – 23.25h
Digo Eu; A Arte não se quer uma coisinha suave, alegre e politicamente correcta. A Arte quer-se em vendavais, em erupções da mais genuína criatividade.