NESSE DIA
NESSE DIA
*
Nesse dia
não houve mais medos
no palco do sonho
e todos adormecemos
na dimensão da esperança
*
Nenhum de nós
fugiu ao alheio olhar,
nem os braços hesitaram no desconforto da dúvida
ou os lábios silenciaram o grito
neste país então vestido de canções,
aberto à construção da vontade de todos
vermelha,
tão vermelha no seu despontar…
*
Nesse dia
então extasiado
- ele e nós extasiados,
tão extasiados da liberdade conquistada… -
clareou um céu cheio de abraços
por detrás de todas as grades,
na voz de todos os amigos silenciados
e,
acima de tudo,
o cravo
que floresceu a desenhar sonhos,
a erguer-se nas armas e nas mãos,
a tomar conta das veias das ruas,
a derramar-se num Tejo em maré alta,
a escapulir-se Atlântico afora;
- Até sempre, até todos os dias por chegar!
*
E foi inevitável
a cor rubra dos amanhãs desse dia
hoje naufragado em alheio mar,
despido de sonho, veias e vontade,
numa jangada incolor, de remos obedientes
a um leme que treme sob o olhar de uns.poucos...
*
Maria João Brito de Sousa - 25 de Abril, 2011