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NÃO TE JURO, PAI...

Segunda-feira, 19.03.12

 

Pai, no escritorio.jpg

 NÃO TE JURO, PAI...

*

 

Não to jurarei

pai

- já por cá não estás,

já te não lembras -

mas acredito que as  mãos

as tuas mãos

voavam tanto como os seres alados

que era delas que as histórias fluíam

e que era através delas que me falavas

quando te ouvia

inteira

como ouvem as flores. os gatos

e as figurinhas de porcelana

com que mãe decorava as estantes dos teus livros

 *

Que espécie de alquimia

me transformava assim

 já to não sei dizer

e

repito

não to juro!

talvez a memória brinque comigo

ou os anos me pesem

mesmo quando me não doem assim

tanto

mas quase. quase te garantiria

- pudesses tu ouvir-me -

que era inteira

como estátua que ousasse um coração

que ouvia as tuas mãos

as tuas mãos eternas que nunca se calavam

Qualquer dia,

não mais

evocarei a voz das tuas mãos

longas. longas.

sobre as páginas dos livros

moldando palavras. fazendo desabrochar imagens

que só completa poderia ouvir

Por isso

pai

contradizendo-me

tão inteiramente como então

assumo as tais saudades que nunca soube sentir

e

ouço

estátua. flor. figurinha de porcelana

ou gato adormecido

ouço

as tuas mãos

perfeita e (e)ternamente as tuas mãos

nas palavras

que escrevo para ti.

 

 *

 

 

Maria João Brito de Sousa 

19.03.2012 – 11.38h

*** 

 

 

 

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 14:39








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