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APESAR DE TUDO...

Sábado, 12.05.12

APESAR DE TUDO
*

… mas  chegaste tarde, apesar de tudo…

*
- Ele era um mundo inteiro de sorrisos e um imenso atropelo de boas vontades; não se avançava quase nada, não se fluía e este amanhã não era por ali…

*

- Tivesses dito que não. Ou empurrado alguém…

*

- Nunca saberia a quem empurrar… nem porquê. A boa vontade estava toda lá, embora insuspeita, difusa, descontextualizada e incolor.

*
- Como deste, então, por ela?

*
- Sentia-se, apenas. Era isso.

*

- Deixasses de a sentir! Terias chegado à hora combinada, terias sido mais conveniente e não me terias feito esperar...

*
- Ah, não poderia! Nenhum deles teria percebido que esperavas por mim.

*



Maria João Brito de Sousa – 11.05.2012 – 00.10h



NOTA – Não é um poema nem uma prosa poética, como muito bem terão reparado. Apenas uma “liberdade” em discurso directo. Uma liberdade no uso do seu pleno direito de não dizer coisa alguma que sentido faça…


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publicado por Maria João Brito de Sousa às 14:46

CONTINUAÇÃO

Sexta-feira, 11.05.12

CONTINUAÇÃO

*

 

Às tantas faz-se tarde;
um deus sobe
a pulso
a corda
da noite fria
de um sol que já não arde
e

morto desafia
um qualquer sonho avulso.

*

Tricota a velha Musa
um espasmo breve,
como beijo que beije sem beijar,
 num roçagar de asas,

muito leve
sobre a gestualidade algo confusa
com que acrescenta a corda

e

ao tricotar
liga ideia e matéria…
e mais não deve.

*

Depois…
depois nem um nem outro
entendem desistências:
um sobe
inventando um punho em cada coto
e

a outra

muito além das aparências
desdenha esse  (im)provável Deus-dará
e (re)descobre a Vida onde a não há.

*

 

Maria João Brito de Sousa – 11.05.2012 – 16.46h



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publicado por Maria João Brito de Sousa às 16:50

AO MAIO QUE HOJE ME OCUPA

Quarta-feira, 02.05.12

Maio, hoje, ocupou as ruas do meu corpo,
vestiu-se de vermelho e fez-se voz!

*
Há uma praça em luta,
um direito básico
que quase se perdeu,
uma conquista a cimentar,
uma memória que rasga um nervo… e salta!,
um velho-novo mundo,
escrito a sangue sobre asfalto
que se não quer esquecido,
que reivindica, cresce e ressurge
da ponta dos meus dedos inquietos, febris

*
Lá fora,
nas ruas onde o frio ainda gela,
onde as pedras se fazem sentir
duramente sob os pés,
onde o vento zune, espalha e semeia
as palavras de ordem que os ouvidos captam
e os gestos se traçam
nas três dimensões do costume,
sois vós, camaradas, quem se bate por ele.

*
Ainda a luta de classes,
neste Maio que não quer
nem  pode desmentir-se!

*

Nenhum medo
nenhuma hesitação
para além do vermelho que me veste
de uma urgência que só assim posso manifestar

*
Se o meu corpo não pode ir às ruas,
que venham as ruas ao meu corpo,
neste vermelho Maio em risco,
neste Maio que tentam roubar-nos,
neste Maio a querer fugir-nos
depois de conquistado a ferro e fogo
sobre as vidas de muitos,
com a vontade síncrona de tantos milhares
contra - sempre e para sempre contra! -
a humilhação da desigualdade,
o opróbrio da exploração,
a persistente e movediça hipocrisia de uns quantos.

*


Maio, vermelho Maio,
revisitando um sonho que resiste
nas ruas que invento no meu corpo desistente.

*

 



Maria João Brito de Sousa - 01.05.2012 - 14.50h

 

 

 

 





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publicado por Maria João Brito de Sousa às 00:01








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