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BRADO

Quinta-feira, 27.09.12

Cresce puríssimo,
forte, ininterrupto,
claríssimo nas mãos imaculadas pelo uso
(porque apenas o uso lhes confere
a transparência das grandes, invencíveis compulsões)

*

Sábio, porque justo,
floresce, rompendo o húmus das palavras
ao dar-lhes o sentido de todos os sentidos
na lucidez dos que vivem paixões indomáveis

*

De todos nós,
porque se sobrepõe a cada uma das nossas vontades,
se multiplica nas veias da terra
e se mistura à lava dos vulcões que vamos sendo,

não será detido
nos becos do receio,
nem ave nenhuma voará mais alto
do que esse eco
que
o vento,
zunindo,
transporta consigo
desde o mais profundo da nossa justíssima revolta

*

Límpidas, crescem as sílabas
que se desnudarão na invencibilidade do nosso brado!

*

 

Maria João Brito de Sousa - 27.09.2012 - 01.53

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 15:37

NASCE, POESIA!

Terça-feira, 11.09.12

NASCE, POESIA!

*

 

Porque o que és

me não cabe nas mãos fechadas,

escorrem-me,

por entre os dedos,

estas sobras

do que recuso transformar

em gesto de troca,

artigo de compra e venda,

vaidade, embriaguez, culto ou ritual

 e  que és tu,

Poesia.

*

Divinizam-te

alguns

o corpo que não tens

no altar que insistes em não ser

mas eu sei-te no cerne de todas as coisas

escorrendo inevitavelmente

de todos os poros, por todas as frestas,

limpa, lúcida, viva, (in)explicada…

 *

Cantas

ainda

onde a esperança desistiu de viver

ressoas no vácuo, apesar de inaudível,

desdobras-te

em invisibilidades e vislumbres

e

acendes-te, sublime,

no arrepio de cada escuridão

*

  

Inútil

ou não

Nasce, Poesia!

*

 

 

Maria João Brito de Sousa – 11.09.2012 -01.53h

 

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 02:04

METÁFORA - O Manifesto

Segunda-feira, 03.09.12

 

METÁFORA

(Manifesto)

*

 

Eu digo-te

que o sol floresce limpo

sobre o estrume das aparências

e que as palavras são casas nas cidades da voz

 *

Digo-te

que as ruas são mãos a (re)pousar,

que as estátuas de pedra são canções

e que as canções são luas, de tão brancas…

 *

Dir-te-ei,

vez por outra,

que as plantas são mulheres e homens

cansados da colheita improvável,

que os dias – todos eles –

são movimento,

que as noites são o esconderijo

dos sonhos à espera de acordar

e que os muros são pontes entre agora e depois

 *

Falar-te-ei de passos sem distância,

de espaços sem medida,

de memórias sem tempo

e de gente sem medo de morrer,

mas jamais me ouvirás falar de renúncia

enquanto o murmúrio me for permitido

na cidade da voz libertada

*

 

Também a metáfora se come, se bebe

e não sabe render-se enquanto viva

*

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 03.09.2012 – 18.12h

 

 

Imagem retirada do jornal "Avante!" - Guernica, Pablo Picasso

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 19:07








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