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MEMÓRIAS

Sábado, 02.02.13

 

Nessa noite

uma lua prenha,

rodando tão devagar

que qualquer olhar lhe atribuiria  

a imobilidade do grafismo impresso,

deixou que  uma nuvem cinzenta a tapasse

 *

Depois,

sobre o louceiro da sala,

no aquário dos sonhos  antigos,

um novo e inesperado peixe incolor

foi-lhe devolvendo a memória dos “crayons”

até que a insubmissão de uma mão imaginária

os quisesse e soubesse ressuscitar na vontade dos dedos

 *

Fazia tanto frio

na floresta das cores

onde as horas, como agulhas,

lhe apontavam as conchas vazias

de mil gestos sem esperança de fruto...

 *

 Bastou

porém

que esse peixe

se agitasse levemente,

que uma palavra

espelhasse a cor da nuvem,

que as invisíveis raízes

suportassem o inevitável tronco,

que o impensável cilindro

se alongasse em ramos impossíveis,

que as velhíssimas memórias

se metamorfoseassem em folhas improváveis

para que

a substância do fruto

se viesse a tornar tão real

quanto aquela absoluta urgência

de o ouvir cantar

por dentro de outra novíssima criação.

*

 

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 02.02.2013 – 18.09h

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 18:57








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