O DOM DA PERMANÊNCIA
O DOM DA PERMANÊNCIA
*
A mulher recebe.
Firme como a rocha,
recebe
exactamente
quem mereça ser recebido
*
Ainda não é velha…
Mas parece
(digo; APARECE)
*
Cabelos mais sal do que pimenta,
olhar que amedronta
exactamente
auem mereça ser amedrontado,
aguenta-se sozinha,
canta,
resiste,
e escreve
movida a coca-cola
(digo;
COLA DIET,
marca branca,
sem açúcar, nem cafeína)
"A ESCOLHA ACERTADA"
(diz a Deco,
digo; o ECO)
*
A mulher
é como os gatos;
paciente e indomável,
*
A mulher
é como as muralhas;
forte e inexpugnável,
*
A mulher
é como as árvores;
firme e produtiva
*
Persiste,
cria raízes,
firma-se-lhe o tronco,
multiplica-se em frutos
POR MAIS QUE
AS HORAS MORRAM DEVAGAR
*
A mulher
não se gasta,
gasta à vontade
(digo; A VONTADE)
*
Acende e mata
o suave português
(digo; PORTUGUÊS SUAVE,
AZUL, SE FAZ FAVOR!)
*
A mulher veste-se
como se se não vestisse
e invade as ausências
com inquietante quietude.
*
A mulher está.
Está a mais.
Está demasiado.
Incomoda.
*
Pontual,
a mulher sai…
Mas permanece
(digo; FICA!)
***
Maria João Brito de Sousa – Janeiro 2000
Autoria e outros dados (tags, etc)
PLASTICAMENTE ARTISTA - Pretéritos quase perfeitos
PRETÉRITOS QUASE-PERFEITOS
*
Era
fêmea decana
de pêlo raso
e cauda geneticamente recolhida
que escrevia telas
e pintava poemas
com a lentidão própria
dos seus cinco doridos milénios
*
Ora na horizontal,
ora dobrada em ângulo recto
sobre os quartos traseiros,
cantava de quando em quando,
muito de quando em vez,
como se a semente da verdade
que (ainda) oculta
no ventrículo esquerdo,
se vestisse de quartzo
e movesse ponteiros
sensíveis (ou não)
*
Nasciam-lhe asas
de porcelana azul-cobalto
sempre que
mordiscava sonhos
ou bebia palavras
no café da esquina
*
Maria João Brito de Sousa – 2005/6