POST SCRIPTUM
POST SCRIPTUM
*
Poderia,
claro que poderia
conceder-me,
de quando em quando,
a textura suavíssima da seda,
o rebuscado colorido da cauda do pavão,
o verso liquefeito nos preciosíssimos licores
que nunca chegam
aos lábios de quem moireja a terra
onde o chão pouco mais oferece
do que a haste sequiosa
da altiva torga
*
Poderia,
poderia sim,
procurar na gratificação pessoal
a doçura anestésica do ópio,
o requinte da fragância mais rara,
o aplauso ocasional e gratuito,
o beijo fácil da simpatia caritativa,
o brilho do néon
que ofusca a borboleta
e invariavelmente queima
quantas asas germinem nos casulos
*
Poderia,
sei que poderia,
adornar-me de pérolas, topázios e diamantes,
Mas
por que o faria
quando um seixo rolado
se me afigura infinitamente mais belo?
*
Post scriptum:
Quem me compra
este dilúvio de (in)certezas
por um punhado de seixos rolados?
*
Maria João Brito de Sousa - 30.11.2015 17.17h