A ÚLTIMA ESTRELA
A ÚLTIMA ESTRELA
*
Um anjo, de negro,
Recolhia do céu
As últimas estrelas da noite
Para que o Sol
Nascesse claro e glorioso
*
Uma mulher, de branco,
Recolhia, de uma qualquer janela,
O seu direito de prolongar a noite
*
O Anjo olhou a Mulher,
Pequena estrela baça
Teimando em ser estrela
Para além da noite
E se anjos são anjos,
São homens com asas
Sofrendo das mesmas vãs contradições
*
O homem com asas
Não fez por maldade,
Fez por tradição:
Não se rouba ao sol
A glória do brilho
Nem se guarda a noite
Por trás da janela,
Que até ente os anjos
Impera o conceito
Do que é preconceito...
*
Tocou-lhe ao de leve,
Tão de levezinho
Que mal lhe tocou
E a mulher caiu,
Caiu, mas subiu
No segundo certo,
No momento exacto
De alcançar no alto
A Última Estrela.
*
Mª João Brito de Sousa
1994
***
À I.C., In Memoriam
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16 comentários
De Ana Mestre a 22.03.2023 às 11:57
Obrigada
De Maria João Brito de Sousa a 22.03.2023 às 12:03
Esta é a minha interpretação poética de uma situação bem real, infelizmente.
Dediquei-o a uma amiga que partiu.
Um beijo!
De Ana Mestre a 22.03.2023 às 12:06
Que a sua amiga esteja em paz!
De Maria João Brito de Sousa a 22.03.2023 às 12:09
De Teresa Palmira Hoffbauer a 22.03.2023 às 12:59
A POESIA é conforto para quem a escreve e para quem a lê.
Embora neste momento apoderou-se de mim um tal desalento que não consigo agarrar a estrela ⭐️
Abraço solidário da amiga ainda nas margens do rio Reno.
De Maria João Brito de Sousa a 22.03.2023 às 13:10
Este poema é da década de 90 do século passado - do tempo em que eu apenas escrevia em verso branco e, de quando em quando, em verso livre com rima ocasional...
De qualquer forma, também nada houve de poético na morte que aqui tento descrever, pelo menos até eu dar o meu melhor para lhe conferir a poesia possível, um pouco em jeito de homenagem póstuma a uma amiga que gostava muitíssimo da minha poesia.
Um forte abraço
De Teresa Palmira Hoffbauer a 22.03.2023 às 13:38
Há poemas, sejam sonetos ou em verso branco, são imortais na sua actualidade, que é o caso da sua POESIA, Maria João.
Abraço solidário ainda de Düsseldorf.
De Maria João Brito de Sousa a 22.03.2023 às 13:44
Estamos todos um tanto desalentados, Teresa. E todos tememos pelo futuro dos nossos jovens.
De jabeiteslp a 22.03.2023 às 17:37
para um bela tarde em harmonia
que deixo MJ
Beijinhos
De Maria João Brito de Sousa a 22.03.2023 às 17:45
Que tenhas uma tarde feliz, que eu estou para aqui com a cara toda inchada e dores que dão para dar e vender, embora eu duvida que alguém as queira comprar
Beijinhos
De Rogério V Pereira a 22.03.2023 às 22:09
a glória do brilho"
...e que faria o ladrão
com tal glória roubada?
(belo, como sempre!)
Abraço
De Maria João Brito de Sousa a 22.03.2023 às 22:12
Forte abraço, meu amigo!
De Francisco Carita Mata a 23.03.2023 às 16:42
De Maria João Brito de Sousa a 23.03.2023 às 22:36
Este poema foi a homenagem possível a uma amiga que partiu cedo demais...
Desculpe-me se o não conseguir visitar hoje, mas ainda estou muitíssimo infectada e dorida.
Fraterno abraço
De Mariete a 01.05.2023 às 11:55
Feliz dia 1º de Maio, feriado, dia do trabalhador
Abraço
De Maria João Brito de Sousa a 01.05.2023 às 12:20
Um abraço!