ESPELHO MÁGICO, ESPELHO MEU...
ESPELHO MÁGICO, ESPELHO MEU
*
Não era a minha face
que via nesse espelho...
era
a de uma outra Alice
no país dos pesadelos
que se transmutava
ao sabor dos cogumelos
e sabia dar corda
ao relógio do coelho...
Não era a minha face, com certeza!
*
Era,
talvez,
a da Menina-do-Capuz-Vermelho
apaixonada por um lobo velho,
com ele fugindo ao caçador malvado
- a avozinha
comprava os bolos no supermercado
e
todos os dias
dançava rock and roll na penumbra do quarto
*
Era
a
da Bela-Adormecida
que nunca mais conseguia adormecer
e se deitava a escrever
cartas de jogo à Bruxa-Arrependida
*
Era
a
da Branca-de-Neve dos sete-mil-anões
devorando maçãs-desencantadas,
tentando acreditar
que nem tudo são desilusões
*
Ou
a
da Princesa-dos-Sapatinhos-de-Cristal
a vir da discoteca às cinco e tal
*
Talvez
a
do
Pinóquio,
sorrindo no ventre da baleia
ou
- quem o sabe? - da Pequena-Sereia,
mas
nunca a minha face:
Não era a minha face verdadeira!
*
Maria João Brito de Sousa - 1992/3