PEQUENOS LUXOS
Nenhum medo,
mas todas as formas de o negar
vinham bater-lhe à porta naquele dia
pintado de fresco.
Havia ainda
o pormenor rústico
da inesperada lata de grão-de-bico
que
(por mero acaso)
encontrara na despensa em desalinho
(e)
havia
o requintado rancho-fingido
que efectivamente fingira cozinhar
sobre a única boca do fogão desmantelado
(e)
havia
a gata,
bêbeda de sol,
espreguiçada nas lonjuras da marquise,
longe do desconsolado consolo dos livros cobertos de pó
(e)
havia
aquelas paredes transpiradas
que sempre vestira como a uma segunda pele
(pequenos luxos, enfim...)
O galope ritmado,
imparável,
do decassílabo heróico,
esse,
voltará
Nunca sabe quando,
mas sabe
que um dia voltará,
grávido de som,
pujante, indomável,
a galgar as planícies de oiro do poema.
Não baterá à porta,
nem se fará anunciar.
Jamais um galope selvagem
se poderia fazer anunciar.
Maria João Brito de Sousa - 22.11.2016 - 18.56h
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4 comentários
De Maria João Brito de Sousa a 22.11.2016 às 21:23

São pequenos instantâneos do dia de hoje que ficaram - ficaram mesmo - estranha e claramente gravados na minha memória...
Beijinho!
De jabeiteslp a 06.12.2017 às 16:48
que nem o tempo apaga

Beijinhos e uma boa e feliz noite


De Maria João Brito de Sousa a 06.12.2017 às 16:57
Obrigada por mo fazeres lembrar e que tenhas, também, uma noite feliz e repousada.


Beijinhos