Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



SEM MEIAS-TINTAS

Domingo, 20.05.18

 

Eram simpáticos

medianamente simpáticos

nos seus cumprimentos

e nos seus sorrisos

mais ou menos artificiais

mais ou menos impostos

mais ou menos convenientes

 

Ele

a partir desse dia

aborrecera

flores, lacinhos, veludos e doirados…

aborrecera os meio-doces

rebuçados de hortelã-pimenta

as meias-criações

as meias-paixões

as meias-convicções

e

todas as meias-tintas

que perturbassem

o canto genuíno do melro

o uivo do lobo absoluto

o rosnido do lince interior

 

Sequóias!

Ainda se lhe dessem sequóias

de raiz presa à terra

como as vozes dos deuses menores…

 

Ainda se lhe dessem

esses arranha-céus de fibra e floema

que aspiram aos longes dos astros

mais ou menos longínquos 

e lhe renovassem a promessa

de ascender com eles…

 

Mas tudo o que se lhe cumpria

eram aqueles meios sorrisos

aqueles rictos e rituais

mais ou menos postiços

que afirmavam

agradar ao Deus sem tamanho

a quem atribuíam

todas

todas as autoridades

 excepto a de aborrecer

as meias-genuinidades.

*

Maria João Brito de Sousa – 07.04.2010 – 19.00h

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por Maria João Brito de Sousa às 18:17


2 comentários

De Maria Elvira Carvalho a 18.09.2018 às 14:43

Gostei de ler.
Queria agradecer a sua gentileza e informar que o seu nome já está na galeria de poetas femininas(acredita que gosto mais de dizer poeta, do que poetisa? Parece-me que a poesia não tem sexo, poeta é poeta, e poetisa, soa-me a qualquer coisa menor. ) que é o meu blogue Estive indecisa entre aquele soneto, de que muito gostei e o poema "Cada poema" que me encantou.
Um abraço e mais uma vez obrigada

De Maria João Brito de Sousa a 19.09.2018 às 13:59

Estou segura de lhe ter respondido, Elvira, mas devo ter clicado no botão errado pois não vejo nada do que escrevi...
De qualquer forma, tanto quanto me lembro, limitava-me a agradecer-lhe e a dizer-lhe que há duas razões muito pessoais para eu preferir a palavra poeta;

1- Foi poeta e não poetisa que o meu avô sempre me chamou

2- Sou sinesteta e, como tal, as palavras aparecem-me associadas a cores. A palavra poetisa, para mim, apresenta uma combinação de cores francamente desarmónica, completamente diferente da palavra poeta que exibe uns tons pastel muito bonitos.

Um grande e grato abraço.

Comentar post








comentários recentes