SEM MEIAS-TINTAS
Eram simpáticos
medianamente simpáticos
nos seus cumprimentos
e nos seus sorrisos
mais ou menos artificiais
mais ou menos impostos
mais ou menos convenientes
Ele
a partir desse dia
aborrecera
flores, lacinhos, veludos e doirados…
aborrecera os meio-doces
rebuçados de hortelã-pimenta
as meias-criações
as meias-paixões
as meias-convicções
e
todas as meias-tintas
que perturbassem
o canto genuíno do melro
o uivo do lobo absoluto
o rosnido do lince interior
Sequóias!
Ainda se lhe dessem sequóias
de raiz presa à terra
como as vozes dos deuses menores…
Ainda se lhe dessem
esses arranha-céus de fibra e floema
que aspiram aos longes dos astros
mais ou menos longínquos
e lhe renovassem a promessa
de ascender com eles…
Mas tudo o que se lhe cumpria
eram aqueles meios sorrisos
aqueles rictos e rituais
mais ou menos postiços
que afirmavam
agradar ao Deus sem tamanho
a quem atribuíam
todas
todas as autoridades
excepto a de aborrecer
as meias-genuinidades.
*
Maria João Brito de Sousa – 07.04.2010 – 19.00h
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2 comentários
De Maria Elvira Carvalho a 18.09.2018 às 14:43
Queria agradecer a sua gentileza e informar que o seu nome já está na galeria de poetas femininas(acredita que gosto mais de dizer poeta, do que poetisa? Parece-me que a poesia não tem sexo, poeta é poeta, e poetisa, soa-me a qualquer coisa menor. ) que é o meu blogue Estive indecisa entre aquele soneto, de que muito gostei e o poema "Cada poema" que me encantou.
Um abraço e mais uma vez obrigada
De Maria João Brito de Sousa a 19.09.2018 às 13:59
De qualquer forma, tanto quanto me lembro, limitava-me a agradecer-lhe e a dizer-lhe que há duas razões muito pessoais para eu preferir a palavra poeta;
1- Foi poeta e não poetisa que o meu avô sempre me chamou
2- Sou sinesteta e, como tal, as palavras aparecem-me associadas a cores. A palavra poetisa, para mim, apresenta uma combinação de cores francamente desarmónica, completamente diferente da palavra poeta que exibe uns tons pastel muito bonitos.
Um grande e grato abraço.