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DIAS

Sábado, 11.04.09

Despenham-se na acidez das manhãs

Íngremes e imprevisíveis

Como as águas de Abril,

Abreviando-se, depois, em amarelos claros.

Vejo-os na semi-lucidez do acordar,

Antes da lenta queda

Do elevador singular e intermitente.

 

Voltam, depois,

Suspensos no mel

Dos olhos dos gatos omnipresentes

E dispersam-se por todos os nenhuns lugares

Com urgências de pólenes ao vento.

 

Caem, por vezes,

Como inexistentes pedras

No interior das confortáveis ausências

Que se sublimam em alegres, subversivas criações.

 

Prolongam-se na comunicação

Em gargalhadas

Ou na raridade das lágrimas

[conforme o sumo das alheias horas]

Na mesa concêntrica onde se cozinham percursos

Enquanto se bebem demorados cafés.

 

Continuam, sempre,

Até irem soçobrando, a oeste de mim,

No azul líquido que se escurece de luminosidades artificiais

E morrem, inevitavelmente,

No momento pendular de todas as renúncias.

 

Renascerão mais tarde,

Na subtracção das horas somadas,

Um a um,

Num sopro súbito de permanência consentida.

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 11:06

A AULA

Quinta-feira, 09.04.09

Semeiam mil palavras e conceitos

Na vertical dos sonhos

Que ninguém, ainda, derrotou

 

Interagem em espaços a-dimensionais

Onde as vontades se esbatem na inércia das horas

E somam multiplicações

Onde a divisão se remete

Para a pequenez do pátio de recreio

No grito-zumbido da campainha.

 

Aulas. Aulas como promessas

Do que ainda lhes não foi negado.

 

Depois, só depois começa a aula.

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 16:53

CONTRA-DICÇÃO

Quarta-feira, 08.04.09

Como pode ele sorrir se a terra treme

E há crianças violadas na esquina dos medos?

Como pode nascer-lhe a gargalhada

Sobre a lucidez trémula do peito?

 

Como pode, sequer, esboçar o sonho

Se lhe semearam, no patamar dos olhos,

Pedaços de irmãos dispersos como folhas?

 

Como pode ainda ver, se lhe encheram os pulmões

Do acre das tragédias gratuitas pintadas de doce?

 

Como pode?...

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 15:13

MARGINALIDADES

Quarta-feira, 08.04.09

Desenham-se-lhe desejos como avejões

Num além sinistro e confuso,

Revolto e vermelho escuro.

 

Assim se lhe crispam as mãos

Sobre o róseo do perecível

E se eterniza a necessidade

Na destruição do construído.

 

Morrem-lhe os dedos

No cume de si mesmo,

Ultrapassa-se no róseo

Avermelhado de outra crispação

E morre, depois,

Exausto como um pôr-do-sol

Exactamente no auge

Do que jamais havia desejado.

 

Renascem as perguntas.

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 14:00








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