ANTES QUE O SOL NASÇA
ANTES QUE O SOL NASÇA
*
Antes que o sol nasça,
lembrar-te-ei que as noites
justificam o retorno dos dias
e que as borboletas, como as palavras,
rastejam, estéreis, antes de voar
*
Lembrar-te-ei,
ainda que eu própria o tenha esquecido,
que todos os horizontes germinam
na lonjura exacta do alcance do teu olhar
apesar dos teus olhos o imaginarem
na fronteira do sonho (in)comum
*
Lembrar-te-ei,
ainda que a lua possa desmentir-me,
que as manhãs te irão sobreviver
e que as montanhas nunca se vergaram
a uma vontade isolada
porque só as mãos juntas apontam os caminhos
que vale a pena desbravar
nas longínquas escarpas do monte improvável
e nada do que eu te lembrar fará sentido
a menos que o descubras antes que o sol nasça
*
Maria João Brito de Sousa – 18.10.2012 – 16.13h
NOTA - Em reedição, a imagem milagrosamente recuperada pelo amigo CARLOS FRAGATA
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BRADO
Cresce puríssimo,
forte, ininterrupto,
claríssimo nas mãos imaculadas pelo uso
(porque apenas o uso lhes confere
a transparência das grandes, invencíveis compulsões)
*
Sábio, porque justo,
floresce, rompendo o húmus das palavras
ao dar-lhes o sentido de todos os sentidos
na lucidez dos que vivem paixões indomáveis
*
De todos nós,
porque se sobrepõe a cada uma das nossas vontades,
se multiplica nas veias da terra
e se mistura à lava dos vulcões que vamos sendo,
não será detido
nos becos do receio,
nem ave nenhuma voará mais alto
do que esse eco
que
o vento,
zunindo,
transporta consigo
desde o mais profundo da nossa justíssima revolta
*
Límpidas, crescem as sílabas
que se desnudarão na invencibilidade do nosso brado!
*
Maria João Brito de Sousa - 27.09.2012 - 01.53