PALAVRAS
Vive o teu silêncio
à flor do que não esqueces,
dizia-me.
Eu sabia
das coisas por detrás das palavras
e sorria-lhe de dentro das letras que vestia de negro.
De todas as palavras
que jamais nasceram
só as do papel me sabiam a verdades.
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NESSA CASA
Nessa casa
Os dias eram maiores...
As coisas eram, invariavelmente, vivas
E os vivos eram, pontualmente coisas.
Os medos e as revistas da novela
Arrumavam-se, sempre,
No quarto da criada
E as patologias
Dentro dos livros.
Havia sempre livros
Nunca demasiados, contudo,
E as paredes
Eram cúmplices
Dos meus infantis murais.
A enorme janela da sala
A poente
Convidava
A vespertinos arroubos
Da criação
Que seria, sempre,
A Senhora da casa.
Depois havia mais casas
Parecidas, mas muito diferentes…
A seguir era o Tejo
Aonde encontra o mar.
O Sol
Punha-se, sempre,
A nascente dessa casa,
Onde nasciam os abrunheiros.
As memórias
Tomavam chá connosco
E jogavam às cartas
Nessa casa.
Para além dela
O mundo era diferente...
No fundo
O mundo era apenas
Uma consequência dessa casa
Nessa casa.
Nessa casa escrevi,
Pintei e desenhei
Como hoje desenho,
Pinto e escrevo
Sempre que reinvento essa casa
Nesta casa aonde sou
Consequência de mim
NESSA CASA.