SEM TÍTULO
Bebeu da fonte de outro medo
Esse menino
Que uma outra mãe
Pariu e embalou
Na teia azul
(metálico segredo)
*
Vive por um fio,
Por um fio mataria;
*
Toque-se o fio,
Vislumbre-se o segredo
E a teia azul transmuta-se em casulo
*
Assustado, confuso,
Cronos passa por ele sem o notar,
Tagarelam os anjos noutro altar
E nem o inimigo o apontaria a dedo
*
Bebeu, colado à teia,
Bebeu do fio
Da fonte de outro medo
*
Maria joão Brito de Sousa - 1999
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JUÍZOS
Quando as mil gotas de água
da clepsidra
transmutadas em Tempo
nos julgarem
no tribunal
de um escólio já expurgado
virão,
dos muitos olhos que nos lerem,
juízos
mais ou menos razoáveis
que esse distanciamento proporciona
Nesse entretanto,
alguns nada verão
e os outros...
mil imagens desfocadas
por espelhos reflectindo o que contêm
Maria João Brito de Sousa – 15.12.2010 – 00.49h
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CHÃO DE MIM
Toco este chão
Com olhos de quem beija
E sei que não embarcarei
Mais vez nenhuma
Chão de mim
Em mutação constante
Que outra força
De mim te afastaria?
Constantemente o toco
Com mãos ocas de um nada
Que despejo
E depois recolho
Cheias de um tanto
Que só eu desvendo
Por isso sei
Que não embarcarei
Enquanto as mãos
Puderem sentir
E pressentir
O chão que me deu vida
Maria João Brito de Sousa
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O ADIAMENTO DA SAUDADE
Olho sem ver,
Vago olhar ligeiramente alienado,
Os ponteiros do meu relógio
Três minutos e meio adiantado,
Tica-taca, tica-taca,
Implacavelmente decidido
A não parar.
Olho sem ver
Mas vislumbro no vidro
Uma lágrima teimosa
Que deixei escapar…
Vislumbro
Uma saudade adiantada?
Atraso os ponteiros
Decididamente, devagar…
Retardo a hora
Mas não retardo o tempo
Porque era o tempo inteiro
De uma vida
Que afinal quereria retardar…
Sorrio àquela lágrima traída
E fico vagamente distraída
A atrasar, a atrasar, a atrasar…
Atrasando eu vou acreditando
Que o tempo, um destes dias
Vai parar…
Na madrugada do conhecimento -1995