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CADA ÁTOMO DE MIM

Segunda-feira, 31.01.11

CADA ÁTOMO DE MIM

*

Cada tábua que piso

Nesta toca,

Cada silêncio

Que reconquistei,

Cada parede

À beira do abismo

Destas mãos na loucura de voar,

Cada lágrima

Em mim jamais chorada

Que irrompe num verso interrompido,

Cada átomo de mim

Neste pulsar cá dentro,

É para mim.

O resto é teu!

*

 

 

Maria João Brito de Sousa– 29.01.2011 – 22.33h

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 16:42

PARA QUE CONSTE

Segunda-feira, 25.10.10

 

Para que conste;


Eu tenho veias, carne

E sonhos como os vossos

Mas jamais escreverei

Sobre estrelas

Que não tenha conhecido desde sempre


Um longo esteio de velas desfraldadas

Nos murmúrios de um imaginário-racional

Precede o olhar com que contemplo o mundo

Para vo-lo devolver um pouco menos mau


Não aceito,

Para que conste,

Que um único de vós me acuse de um ócio

Engendrado por mentes saciadas

[muito embora inconscientes

da sua futilidade]


Para que conste,

Produzo

Tanto ou mais

Do que as mãos de outro qualquer

E consumo

Invariavelmente menos

Do que o corpo ou a mente

Da maioria de vós


Para que conste,

Por vezes as tardes doem-me

Como folhas de Outono

No mármore do tempo

Mas nenhum medo me conquista o estro

Enquanto acreditar


[PARA QUE CONSTE]

 


Maria João Brito de Sousa – 23.10.2010 – 23.14h

 

 

Na fotografia - Eu, ao colo da Aurorinha.

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 15:37

DIAS...

Segunda-feira, 18.10.10

 

Despenham-se na acidez das manhãs

Íngremes e imprevisíveis

Como as águas de Abril,

Condensando-se,

Depois,

Em amarelos muito claros


Vejo-os na semi-lucidez do acordar,

Antes da lenta queda

Do elevador singular

E intermitente


Voltam,

Depois,

Suspensos no mel

Dos olhos dos gatos omnipresentes

E dispersam-se por todos os lugares nenhuns

Com urgências de pólenes ao vento


Caem, por vezes,

Como inexplicadas pedras

No interior das confortáveis ausências

Que se sublimam em alegres,

Subversivas criações


Prolongam-se na comunicação

Em gargalhadas

Ou muito raras lágrimas

[conforme o cerne das alheias horas]

Na mesa concêntrica onde se cozinham percursos

Enquanto se bebem demorados cafés


Continuam,

Sempre,

Até soçobrarem,

A Oeste de mim,

No azul líquido

Que se veste de luminosidades artificiais

E morrem,

Inevitavelmente,

No momento pendular de todas as renúncias


Renascerão mais tarde,

Um a um,

No imprevisível sopro da permanência consentida.

 


Maria João Brito de Sousa

 

 

 

 

NA FOTOGRAFIA - A minha mãe, eu, com dez anos, e a minha irmã, Maria Clara.

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 16:07

LÁ LONGE...

Segunda-feira, 27.09.10

 

 

Porque lá longe,

Aonde nunca os via,

Eram meras silhuetas esfumáveis

Ao mais pequeno sopro da vontade


Aí, aonde perfeitamente

O presente os colocara

Talvez viessem a poder salvar-se

De serem contemplados

Com os olhos lúcidos

De uma inevitável avaliação


Execrava

Qualquer tipo de manipulação

Abominava

Todas as duplicidades

De que os fracos necessitam

Para poderem sentir-se fortes

[mesmo que nunca o reconheçam

e se acreditem bem intencionados]


Por isso,

Lá longe,

Onde a sua piedade os colocara

Seria sempre

O único local possível

Para os proteger

Da sua própria estupidez

Segundo o olhar implacável

Da lucidez de um julgamento imparcial

 

 


Maria João Brito de Sousa – 26.09.2010 – 12.35h

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 11:56

ABUTRES E BEIJA-FLORES

Segunda-feira, 30.08.10

 

Via-os por ali

Hilariantes,

Patéticos fantasmas de abutres

Babando-se de incontida curiosidade


Via-os

Quando se dava ao trabalho de olhar,

Se se dava ao trabalho de olhar


Inacreditáveis somatórios

De infortúnio e pobreza

Muito bem vestidos,

Muito míopes,

Muito desequilibrados,

Muito bêbados

Muito opinativos

E muito pouco inteligentes


Umas vezes

Irritavam-no,

Noutras

Enchiam-no de pena


Alguns,

Mais puros

Do que o bando comum

Pousavam devagarinho

E ficavam

Na imobilidade nervosa

Da sua timidez.


Pequenos beija-flores

Que não chegavam

A beijar coisa nenhuma,

Raros,

Silenciosos,

Bem-intencionados

E belos


Na esmagadora maioria

Dos dias

Nem sequer os via

Muito embora por lá continuassem

Simulando

Uma indiferença

Que só a ele

Legitimamente pertencia.

 


Maria João Brito de Sousa – 29.08.2010 – 01.54hs

 

 

IMAGEM - Stuart Carvalhais

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 12:41

AONDE A RAZÃO TE NÃO RESOLVE

Sexta-feira, 27.08.10

Sinto-te

Aonde a razão te não resolve

E o silêncio te desenrola

As infinitas páginas

De um tempo universal

 


Vejo-te

Como se não fosses

Ou fosses

Mas, não sabendo,

Te limitasses a estar

 


Oiço-te

Como se a tua essência fosse o som

E som

Fosse tudo o que tu és

 


Se te não sentisse,

Se te não visse,

Se em vez de te ouvir

O silêncio

Te pintasse de tons invisíveis

E a razão te explicasse


Se não estivesses mesmo…

 


De onde me viriam estas minhas palavras?


 

 


Maria João Brito de Sousa – 27.08.2010 – 00.14h

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 15:26

EVIDENTEMENTE...

Terça-feira, 13.07.10

 

Bastar-nos-á entretê-lo

De quando em vez

Com um prato de lentilhas

E meia dúzia de palmas ensaiadas.


Será quanto baste

Pois é louco, o pobre…


Como poderia não o ser

Se foi sua a escolha de sobreviver

No limbo do humano conforto?


Por isso

Nos bastará entretê-lo

Na mansidão do seu imaginário

Antes que acorde…

Antes que rosne

E possamos descobrir

Que os pobres somos nós

E que o limbo

É esta dependência

Dos humanos recursos que nos movem

Enquanto regurgitamos

Certezas

E sentenças

Que, evidentemente,

Serão sempre as mais correctas


Evidentemente!

 


Maria João Brito de Sousa

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 16:37

NÃO TENHO MEDO DO TEMPO!

Segunda-feira, 12.07.10

 

Não tenho medo do tempo

Porque o tempo recomeça

Sempre que bem lhe apeteça

Sem que ninguém o impeça!

 

 

Portanto digo;

 

 

“Se abrando,

Ficam-me as horas trocadas,

Fica tudo às três pancadas

E perco tempo…

Lamento;

Tenho pressa, muita pressa

E nenhum medo do tempo!”

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 11.07.2010 – 20.59h

 

 

 

 

 

 

IMAGEM - Pormenor de uma tela de Salvador Dali (retirado da internet)

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 12:18

O HOMEM QUE, URGENTEMENTE, PRECISAVA DE COORDENADAS

Segunda-feira, 05.07.10

 

Coordenadas

Dêem-lhe coordenadas

Antes que se perca

Ou antes que o mundo

O perca a ele

 

Apontem-lhe caminhos,

Forneçam-lhe bússolas,

Relógios,

Sinais de trânsito

E amores

Daqueles que se vendem

E se regateiam

 

Mas, antes de mais,

Forneçam-lhe as tais coordenadas

Não vá

Evaporar-se no ar,

Dissolver-se nos rios,

Sublimar-se no éter

 

Sem que alguém tenha,

Pelo menos,

Tentado mantê-lo uno,

Dentro

Do convenientíssimo invólucro

Que alguém se esqueceu de selar…

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 04.07.2010 -23.49h

 

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 10:52

ANTES DE MIM

Segunda-feira, 28.06.10

 

Meu destino lunar traçaste-o Tu

No lapso em que nasci

Urgente e nua

Em busca de alcançar

Estrela Polar…

 

Talvez antes,

Muito antes do momento

Da minha criação

Em traje humano...

 

Talvez mesmo antes de Eva,

Antes de Adão,

(Que o destino

Precede a criação...)

 

Talvez antes ainda

De abraçar

Humana condição…

 

Talvez antes de mim eu fosse lua…

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa

 

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 16:24








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