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PRECISO DE NAVEGAR...

Segunda-feira, 29.08.16

 

 

Ai que eu, agora,

Já nem sei meter travões

Tenho as rimas por paixões

Ouso versos compulsivos

 

Ai que eu, agora,

Nem sei se escrevo ou converso

Cabe-me a vida num verso

Não vendo pra tal motivos

 

E se isto fica

Para sempre a dar-me o mote

Não há motor nem há bote

Que me reconduza ao cais

Pois se isto fica

Será no mar deste mar

Que hei-de um dia naufragar,

Quando for tarde demais

 

Mas pouco importa

Naufragar se naveguei

Porque nele me aventurei

Se mais do que à vida o quis

 

Ah, pouco importa

Que o que importa é ter-se um rumo

Navegar provando o sumo

Que em nós há desde a raiz

 

Maria João Brito de Sousa - 29.08.2016 - 12.05h

 

(Imagem retirada da Web, via Google)

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 12:50

PARADOXO

Quarta-feira, 06.08.14

 



No geométrico azul do teu olhar
bebi,
no aço frio da tua ausência,
uma absurda certeza de te amar
em tragos da mais pura transparência

e tu,

que em mim cumpriste a divindade
no ritual dos corpos partilhados, 
fazendo-me florir, frutificar,
és cego, surdo e mudo
à minha essência.

 

 

 

Maria João Brito de Sousa - 1999

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 17:37

PERCURSO

Quarta-feira, 02.07.14

PERCURSO

*

Nasci num mar tão distante

Quanto as águas primitivas;

*

Vim presa ao lastro do tempo

Que ecoa nas catedrais

Das grutas intemporais

Onde cresci no fermento

Das fusões mais permissivas

*

 

Vivi mil milhões de vidas,

Morri de outras tantas mortes;

De tanto ir deitando as sortes

Às coisas nunca vividas,

Cresceram-me asas por dentro

 Que,

Por fora,

Sou segredo,

Sou anjo cristalizado

Na vertigem do futuro

(antes que ele seja passado…)

 *

Por

Um lado,

Digo tudo,

Por outro,

Não mostro nada

(tenho a razão condenada

por versos com que me iludo…)

*

 

Se,

Por vezes,

Azarado,

De outras tantas,

Tenho sorte

Pois,

Do nascimento à morte,

Só me perdi quando achado.

 *

 

 

Maria João Brito de Sousa – 2005 ou 06

 

 

Nota - Poema ligeiramente modificado a 02.07.2014

 

Imagem retirada do Google - Líquen

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 21:46

ESPELHO MÁGICO, ESPELHO MEU...

Sexta-feira, 21.03.14

ESPELHO MÁGICO, ESPELHO MEU

*

 

Não era a minha face

que via nesse espelho...

era

a de uma outra Alice

no país dos pesadelos

 que se transmutava

ao sabor dos cogumelos

e sabia dar corda

ao relógio do coelho... 

Não era a minha face, com certeza!

*

Era,

talvez,

a da Menina-do-Capuz-Vermelho

apaixonada por um lobo velho,

 com ele fugindo ao caçador malvado

- a avozinha

comprava os bolos no supermercado

e

todos os dias

dançava rock and roll na penumbra do quarto 

 

 *

Era

a

da Bela-Adormecida

que nunca mais conseguia adormecer

e se deitava a escrever

cartas de jogo à Bruxa-Arrependida

* 

Era

a

da Branca-de-Neve dos sete-mil-anões

devorando maçãs-desencantadas,

tentando acreditar

que nem tudo são desilusões

 *

Ou 

a 

da Princesa-dos-Sapatinhos-de-Cristal

a vir da discoteca às cinco e tal

 *

Talvez

do

Pinóquio,

sorrindo  no ventre da baleia 

ou

- quem  o sabe? - da Pequena-Sereia,

mas

nunca a minha face:

Não era a minha face verdadeira!

 *

 

Maria João Brito de Sousa - 1992/3

 

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 19:01

HERANÇA

Segunda-feira, 17.03.14

Avô,

Porque me deixaste

Tanto tempo antes de partir de verdade?

*

 

Nenhum de nós tinha na mão a tua sorte

E se algum dia te desejei a morte

Foi para te libertar duma vida estagnada,

Para que procurasses a Sereia Encantada,

O Anjo Azul que te convidou para jantar

E a Ilha Deserta que, enquanto vivo, não pudeste encontrar

 *

Dos piratas malaios com quem brincavas

Em menino

Deixaste-me a cor da pele,

O negro dos cabelos

E o vago olhar felino

 *

Sempre que embarco na tua Jangada de Luar,

Oiço as ondas que me pedem contas

Das tuas rimas vivas como o mar,

Desses teus versos líquidos, salgados

E

Só sei responder-lhes

Que te vi partir de olhos fechados

Que,

De ti,

Só sobraram

Os meus pobres poemas naufragados

Numa praia de areia calcinada

Onde me encontro com os mortos que voltaram

Pr`a  perguntar-me da tua morada

*

 

 

 

Maria João Brito de Sousa - 1992

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 21:11

ARBITRARIEDADE

Domingo, 16.03.14

 

ARBITRARIEDADE

*

Era uma mulher traçada a fio de prumo,

vinda dos tempos primevos do homem-vertical

* 

Dia a dia,

percorria o rumo

que fazia do dia vindouro

um dia insuportavelmente sempre igual

*

Era de noite que brincava aos fantasmas,

diluída nos incontáveis ectoplasmas

das almas que foram e das que estão por vir

 por isso,

acordava anoitecida

sem nunca estar segura

de ter acordado do lado de cá da vida.

 

Ora sonhava sonhos,

acordada,

ora cantava, estando adormecida;

 o que doía

era viver multiplicada

onde todos a pediam dividida.

*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 1993

 

 

 

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publicado por Maria João Brito de Sousa às 15:29








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